Neste mundão de plantações Brasil afora, é difícil imaginar o quanto desperdiçamos de tudo o que a natureza nos dá. A produtora rural Maria das Dores Lima, que acorda com as galinhas todos os dias para cuidar dos afazeres do sítio, sabe o que é fartura.
Mas no pedacinho de terra da família dela, no sul de Minas, o que se planta, não se perde. O sustento vem da horta. Produtos pra comer e vender. “Para não ter desperdício, a gente planta pouco, a conta do consumo mesmo de levar para feira e para o nosso consumo”, diz dona Maria. E de tudo o que é colhido aproveita-se o máximo.
Para ela, na cenoura, o alimento não está só no que cresce debaixo da terra, não. As ramas verdinhas também vão para a panela.”O gosto é de cenoura mesmo”, diz.
Inspirada, dona Maria conta que usa as ramas da cenoura em várias receitas, mas a mais bem sucedida é a omelete. Ela pica a rama bem picadinha e acrescenta à receita da omelete. Em duas versões: com queijo e sem queijo.
Mas, na feira, na banca da dona Maria, e dos outros produtores, as ramas não tem o menor valor para quem compra.
O tamanho do desperdício foi comprovado em laboratório. A ciência mostrou o quanto as ramas de cenoura são nutritivas. “Estão jogando ferro, fibras e proteínas no lixo”, conta a pesquisadora e farmacêutica da Universidade Federal Lavras, em Minas Gerais, Rosemary Gualberto Pereira.
Além de cálcio, magnésio, zinco e betacaroteno, nos laboratórios do departamento de ciência dos alimentos da Universidade de Lavras, no sul de Minas, as pesquisadoras concluíram que as ramas da cenoura têm mais nutrientes do que a própria cenoura.
“As cenouras hoje, praticamente, não necessitam do uso de agrotóxicos. Então, as ramas são quase que orgânicas. É mais uma vantagem para utilizar a rama da cenoura”, conta a pesquisadora.
E as pesquisadoras foram além. Desenvolveram uma farinha da rama, secando as ramas e depois moendo. Um processo que pode ser até feito em casa. “A dona de casa, ela pode secar ao sol para obter ela seca, desidratada. E triturar, em algum macerador ou no liquidificador”, explica a nutricionista da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais,Gláucia Soares Pereira.
“E todos estes compostos são muito importantes para o bom funcionamento do nosso organismo, para nos dar mais energia, para o bom funcionamento intestinal também”, declara a pesquisadora Rosemary.
O pulo do gato na universidade mineira foi uma receita: o pão de queijo com nutrientes concentrados. Basta adicionar um pouquinho de farinha de rama. “No caso, para 1 quilo, 1 quilo de polvilho, 1 quilo de farinha de trigo, 30 gramas já é suficiente para adicionar à formulação”, diz a nutricionista Gláucia Soares Pereira.
E suficiente para enriquecer o alimento: quatro pãezinhos de queijo com esta farinha suprem um terço da recomendação diária dos nutrientes.
Então, é um pão de queijo verde. Ele até por fora é um verde mais discreto e, por dentro, tem um verde mais intenso. E o gosto é de um pão de queijo, mas de um pão de queijo com ervas.
Vamos ver o que a dona Maria acha do pão de queijo, como boa mineira. “Tem gosto de pão de queijo e o cheirinho da cenoura. Muito bom”, diz.
A sensação é de algo familiar, mas diferente. E o povo mineiro é exigente quando o assunto é pão de queijo. “Bom demais. Só faltou o café com leite agora”, fala
o consumidor na praça.
Fonte: Globo reporte edição do dia 22/07/2011.
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